segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

ABAIXO A MEMÓRIA - por Helcio Estrella

ABAIXO A MEMÓRIA
por Helcio Estrella



Ao tomar conhecimento da suspensão – ou será mesmo fechamento definitivo ? – do museu da TAM, em São Carlos, interior de São Paulo, pela rápida reação de Sergio Moreira, da ABRAJET de Minas Gerais, que propõe que nos levantemos em campanha por sua preservação, veio-me à mente uma conversa que tive com Rolim Adolfo Amaro, num dos últimos encontros que tivemos, quando ele me informou que iria criar um museu de aeronáutica às suas próprias expensas, com o apoio de seu irmão, o também comandante João Amaro. O lendário fundador da TAM disse-me então que iria propor que se criasse uma lei proibindo que se fechasse museus, com a volúpia com que mata esses centros preservadores da vida da cultura nacional.

Apenas para rememorar, nas últimas duas décadas fechamos no Brasil pelo menos três museus de aeronáutica, a saber: o museu de Bebedouro, interior de São Paulo,  uma modesta instituição criada e mantida pela família de nome Lee ( possivelmente de descendentes dos confederados que formaram no Brasil um núcleo de milhares de americanos derrotados na Guerra de Secessão ), o museu da fundação Santos Dumont, que chegou a funcionar no parque do Ibirapuera, na capital bandeirante, que era mantido vivo por um teimoso D. Quixote de La Mancha, o jornalista  Paulo Santos Mattos, ex-Presidente Nacional da ABRAJET e então Presidente da ABRAJET São Paulo, que lutou como um espadachim para mante-lo vivo, e o museu da VARIG, de Porto Alegre, em pról de cuja preservação chegamos a aprovar em uma reunião do Conselho Nacional da ABRAJET, em Porto Alegre, redigido por mim e pelo colega Ayres Cerutti,  um memorial enviado à diversas autoridades, entre elas os ministros da Aeronautica e da Educação, pedindo sua manutenção.

Rolim, com sua combatividade e criatividade, criou o Museu da TAM, hoje um monumento à aviação brasileira,  que ao lado do Museu de Aeronautica, do Rio de Janeiro, lega às novas gerações a memória dos esforços que levaram nosso País à invejável posição de detentor do quarto  mercado de aviação comercial no mundo. O fundador da TAM, que tirou de  sua privilegiada  cabeça os meios para fundar aquela lendária ex-empresa brasileira, hoje controlada por empresários do  Chile, dizia, repetindo o também lendário comandante Felipe Wagner, que  ainda dirige do alto de seus 85 anos a EWM, a maior e mais respeitada escola privada de aviação do Brasil,  que não temos memória cultural porque não gostamos dela.

O Museu da TAM é patrimônio da história do Brasil, da história de como o  avião  ajudou a forjar a nossa nacionalidade e a  preservar como um único povo a Nação brasileira. É, portanto     parte indivisível de todos nós, que nos recusamos a cede-la, para que alguns possam aumentar seu patrimônio,  já que nos espaços de suas instalações o grupo LAN tenciona instalar uma grande oficina de manutenção aeronáutica.
Fechar o Museu da TAM é ser contra a memória nacional.

O autor Helcio Estrela é jornalista, Diretor da revista financeira BANCO HOJE e  ex-Presidente Nacional e membro permanente do Conselho Nacional da ABRAJET – Ass. Brasileira de Jornalistas de Turismo, e foi durante 30 anos editor-chefe da publicação AVIAÇÃO EM REVISTA. 

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