quinta-feira, 24 de abril de 2014

NOVA JERUZALÉM: FÉ E EMOÇÃO NA SEMANA SANTA

por João Zuccaratto 
Jornalista Especializado em turismo baseado na cidade de Vitória, capital do Estado do Espírito Santo


Os efeitos especiais e uma apoteoso de fogos de artifício são outros atrativos da Paixão de Cristo, em Nova Jerusalém, no agreste pernambucano

Paixão de Cristo no interior do Estado de Pernambuco: espetáculo no mesmo nível dos desfiles das escolas de samba no Rio e dos bois-bumbá em Parintins

Até este momento, acredito haver três espetáculos apresentados em diferentes partes do Brasil que merecem ser assistidos pelos menos uma vez na vida. Um deles é o desfile das escolas de samba na cidade do Rio de Janeiro, capital do Estado de mesmo nome; outro, a disputa dos bois-bumbá Caprichoso e Garantido, na cidade de Parintins, no interior do Estado do Amazonas; e, por fim, a encenação da Paixão de Cristo, que acontece em Nova Jerusalém, em pelo sertão e agreste pernambucano.

Esta última ocorre em dias próximos e durante a Semana Santa e deve ser programa com antecedência de um ano pelo menos. O melhor é procurar o mais breve possível uma agência de viagens e negociar um pacote compensador, composto por passagens aéreas, hospedagem, alimentação e transfer de ida e volta ao evento. Aproveite que a apresentação de 2014 encerrou-se agora e já vá discutindo preços e condições para a de 2015. Nas páginas a seguir, mais informações sobre este evento único no mundo.

O ator da Rede Globo de Televisão, Carlos Machado, no papel de Pilatos, comanda o julgamento de Jesus Cristo, vivido pelo pernambucano José Barbosa

Paixão de Cristo no interior do Estado de Pernambuco completa 47 anos de encenações contínuas

Uma história de fé, esperança e muita emoção contada por 50 atores e 500 figurantes em nove monumentais cenários grandiosos. Assim pode ser descrito o espetáculo da Paixão de Cristo, em Nova Jerusalém, cidade-teatro localizada no Distrito de Fazenda Nova, situada a 180 quilômetros pela BR 232, a Oeste da cidade do Recife, capital do Estado de Pernambuco. Neste ano de 2014, as encenações do que é a 47ª temporada começaram sábado, 12 de abril, e encerraram-se oito dias após, sábado seguinte, 19.

Como ocorre já a algum tempo, o grande elenco local da Paixão de Cristo contou com a participação de destacados nomes da cena nacional. Eles contracenaram com o ator pernambucano José Barbosa. Este, pela terceira vez consecutiva, fez o papel de Jesus. Entre os diversos artistas convidados, estavam Carol Castro (a Sílvia, da novela Amor à Vida, da TV Globo). Ela retorna no papel de Maria, depois de ter interpretado Madalena em 2013. Além dela, mais três globais estavam presentes.


Oscar Magrini (o Coronel Nunes, da novela Salve Jorge), também retornando, pois em 2009 fez Pilatos. Agora, viveu o rei Herodes. E, estreando, Fernanda Machado e Carlos Machado. Ela foi a vilã Leila, e ele, o Ignácio, ambos de Amor à Vida. Também presente a modelo Meyriele Abrantes, vivendo Herodíades, a esposa do Rei Herodes. A direção do espetáculo foi de Carlos Reis e Lúcio Lombardi. E a coordenação geral, de Robinson Pacheco. Mas as novidades não pararam por aí.

Além de cavalos adestrados da raça puro-sangue Lusitano, vindos de São Paulo, a cena do Fórum de Pilatos teve a participação de um falcão adestrado. A ave esteve no palco com o adestrador Alexandre José Percílio, proprietário do Parque dos Falcões em Areia Branca, localidade próxima ao Parque Nacional da Serra do Itabaiana, no interior do Estado de Sergipe. Os figurinos, criados pelo estilista e cenógrafo Victor Moreira, tiveram inúmeras peças renovadas sob a coordenação de Marina Pacheco.


Como nas edições passadas, o espetáculo da Paixão de Cristo contou também com novos efeitos especiais, sempre pontos altos admiradores e comentados pelos espectadores. E a Sociedade Teatral de Fazenda Nova, entidade realizadora do evento, deu seguimento à internacionalização da encenação. Em 2013, foram disponibilizados equipamentos para os turistas estrangeiros acompanharem ouvindo o áudio da narração em inglês. Agora, houve versões para o espanhol e o francês.


Segundo cálculos dos organizadores, a Paixão de Cristo 2014 atraiu mais 80 mil presentes — no ano passado, foram 75 mil. São pessoas de todas as idades, vindas de todos os Estados do Brasil e de diversos países. Em seu já quase meio século de história, o público total soma mais de 3,5 milhões de pessoas. Todos viajaram até o Nordeste brasileiro para sentirem-se parte de um acontecimento único no mundo. E sentirem-se fazendo parte do momento mais marcante da origem do Cristianismo.


Clima e paisagem do agreste nordestino assemelham-se ao da antiga Judeia

Com área correspondente a um terço da parte murada da Jerusalém da época de Jesus, este teatro a céu aberto sem paralelo no mundo foi construído em meio à paisagem árida do agreste nordestino. Trata-se de clima e terreno semelhantes aos da antiga Judeia. E, desde seus primeiros momentos, edificações e espetáculo entusiasmam todos que a visitam. Cada um sente-se transportado no tempo e no espaço até a antiga cidade dos tempos da dominação do Império Romano, nos anos 30 da nossa era.


Em pouco mais de duas horas, o realismo que brota das cenas, dos trajes dos atores e da fisionomia dos personagens faz com que todos ali presentes deixem de ser meros espectadores. Sob um manto de estrelas, na companhia de um luar de sonho, típico das noites sertanejas, o grande público se confunde com os figurantes, e passa a ser coadjuvante das cenas desenroladas nos diversos palcos. É como se sentir alguém do povo que um dia seguiu os passos de Jesus em terras da Palestina, há dois mil anos.

Atenção diferenciada para os expectadores com necessidades especiais

Há uma apresentação destinada a pessoas portadoras de problemas físicas, com dificuldade de locomoção ou com necessidades especiais. Ela acontece sempre na segunda-feira da semana em que o espetáculo é exibido. E conta com a parceria da Superintendência Estadual de Apoio às Pessoas com Deficiências. Os deficientes auditivos acompanham a tradução do texto na Língua Brasileira de Sinais, a Libras.

Os deficientes visuais vivenciam toda a encenação portando fones de ouvido. Através destes, ouvem a voz de pessoa especializada em áudio-descrição relatando cada uma das cenas desenvolvidas nos diversos palcos. Os com dificuldades de locomoção têm, à disposição, 100 cadeiras de rodas. Além de conduzidas por voluntários ao longo de todo o espetáculo, são colocadas em locais reservados nas plateias de cada cena.

Atores expressam emoção de vivenciar personagens tão marcantes

• Carol Castro

Fiquei muito surpresa com o convite para viver Maria. E bastante feliz e honrada em interpretar essa mulher incrível. Apesar de não ser mãe, foquei no sentimento de maternidade, do amor incomensurável e incondicional. Como já atuei ano passado, fazendo Madalena, tinha bem a dimensão do espetáculo, a carga de emoção de cada cena. E me vali dessa experiência quando gravei o áudio para a dublagem.

• Carlos Machado

Já tinha ouvido falar muito da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém e sabia da grandiosidade do espetáculo. É um motivo de orgulho ter sido convidado para esta temporada. Já tive oportunidade de participar de encenações bíblicas em outras ocasiões, fazendo Jesus e Pilatos, e, para mim, sempre foi uma grande emoção. Agora, atuando no maior espetáculo de Paixão de Cristo do País, não foi diferente.

• Fernanda Machado

Sou de família católica e sempre achei os personagens bíblicos muito interessantes. Fiquei muito feliz pela oportunidade de fazer parte do elenco da Paixão de Cristo. Amigos já atuaram em Nova Jerusalém e relatarem ser emocionante. Sempre tive a curiosidade de saber como é feito esse trabalho, envolvendo tanta gente. Estava curiosa para interpretar para um grande público em uma cidade-teatro ao ar livre.

• José Barbosa

Cada ano é diferente. Vamos ficando mais maduros e tendo novas percepções que nos ajudam a fazer uma interpretação cada vez melhor. É sempre um grande desafio interpretar personagem tão marcante como Jesus, em espetáculo tão grandioso como o de Nova Jerusalém. Minha expectativa, como em todos os anos, é de renovação para as pessoas. Espero que retornem para as suas casas diferentes e melhores.

• Oscar Magrini

Estou muito contente por retornar à Paixão de Cristo, agora para fazer Herodes. Vai ser uma experiência interessante, um novo desafio. Conheci mais sobre o personagem e me preparei para essa temporada ser tão marcante como a de 2009, quando fiz Pilatos. O espetáculo conta a história de Jesus de forma fantástica. E atrai pessoas de todo Brasil e exterior. Me sinto grato e muito honrado por mais este convite.

• Meyriele Abrantes

Posso dizer é que estou muito feliz por ter sido convidada para participar da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém de 2014. Foi a primeira vez que trabalhei como atriz. Dei o melhor de mim para vencer mais esse grande desafio, interpretar Herodíades, a mulher do rei Herodes. É a mesma personagem que, no ano de 2012 foi vivida por Ellen Roche. Espero, pelo menos, ter me igualado ao excelente trabalho dela.

Paixão de Cristo: 60 anos de história; Nova Jerusalém: 47 anos de encenações


O espetáculo da Paixão de Cristo, de Nova Jerusalém teve sua origem nas encenações do Drama do Calvário, realizadas nas ruas da vila de Fazenda Nova, no período de 1951 a 1962, por iniciativa de Epaminondas Mendonça. Depois de ler em uma revista como os habitantes da cidade de Oberammergau, na Baviera alemã, encenavam a Paixão de Cristo, Mendonça teve a ideia de realizar um evento semelhante durante a Semana Santa, a fim de atrair turistas e, assim, movimentar o comércio do lugar.


Os primeiros espetáculos da pequena vila contavam com a participação apenas de familiares e amigos do seu criador. Mas, com o passar dos anos, as encenações começaram a atrair atores e técnicos de teatro da capital, a cidade de Recife. E a Paixão começou a ganhar fama e notoriedade em todo o Estado. Fazenda Nova, vila do Município do Brejo da Madre de Deus, onde as primeiras encenações ocorreram, fica bem próxima ao local onde hoje se situa a cidade teatro de Nova Jerusalém.


A ideia de construir uma réplica da antiga cidade de Jerusalém, para, em seu interior, produzir as encenações da Paixão de Cristo, foi de Plínio Pacheco. Ele havia chegado a Fazenda Nova em 1956, e caiu de amores pelo espetáculo desde a primeira vez que o assistiu. Foram necessários 12 anos de espera para a concretização deste sonho. Em 1968, foi realizado o primeiro espetáculo na cidade-teatro de Nova Jerusalém. Desde então, já vai quase meio século de apresentações ininterruptas que encantam a todos.


O maior teatro ao ar livre do mundo é uma cidade com 100 mil metros quadrados. É cercada por uma muralha de pedras de quatro metros de altura, adornada por 70 torres de sete metros cada uma. No seu interior, nove palcos-plateias reproduzem cenários naturais, arruados e palácios, além do Templo de Jerusalém. O conjunto é constituído de um grande número de obras monumentais, todas concebidas por vários arquitetos e cenógrafos apenas do Nordeste e, é claro, do gênio do seu fundador Plínio Pacheco.


Informações
www.novajerusalem.com.br
DDD 81 — Fixo 3732-1129

João Zuccaratto 
Jornalista Especializado em turismo baseado na cidade de Vitória, capital do Estado do Espírito Santo




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