sexta-feira, 13 de abril de 2018

MUSEU DE ARTE DE SANTA CATARINA APRESENTA EXPOSIÇÃO DE ARTISTAS ABORÍGINES DA AUSTRÁLIA

MUSEU DE ARTE DE SANTA CATARINA APRESENTA EXPOSIÇÃO DE ARTISTAS ABORÍGINES DA AUSTRÁLIA


O Museu de Arte de Santa Catariana (MASC) e a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL apresentam exposição de artistas aborígenes da Austrália. Projeto que já circulou pelo Brasil integra o programa em celebração aos 70 anos do museu, o segundo mais antigo do país.


Depois de passar pelas principais capitais do Brasil, chega à Florianópolis a exposição O Tempo dos Sonhos: Arte Aborígene Contemporânea da Austrália. Trata-se da coleção mais diversificada, vigorosa e exuberante da tradição artística contínua mais antiga do planeta. A mostra inaugura ao público no dia 18 de abril e faz parte da programação que celebra os 70 anos do Museu de Arte de Santa Catarina (MASC), uma das instituições de arte mais importantes e a segunda mais antiga do país. 


As obras que compõem o acervo são de artistas renomados, como Rover Thomas, Tommy Watson e Emily KameKngwarray, entre outros, que já tiveram os seus trabalhos expostos no MoMA e Metropolitan, de Nova Iorque, Bienais como a de Veneza, São Paulo e Sidney, entre outros eventos de prestígio internacional, como o Documenta, em Kassel, e ArtBasel (Miami, Basel e Hong Kong). Emily KameKngwarray (1910-1996) é uma das estrelas da mostra. Mulher, negra, começou a pintar aos 79 anos de idade e é considerada pela crítica uma das maiores pintoras expressionistas do século 20.


“Essa coleção é um presente à população brasileira. Em um acervo de mais de três mil obras, selecionamos aquelas mais significativas. Muitas já foram publicadas em inúmeros catálogos de arte, citadas em teses de dourado e exibidas em várias instituições de prestígio na Austrália, Europa e América do Norte”, conta o curador brasileiro Clay D´Paula, que assina a curadoria com os australianos Adrian Newstead e DjonMundine. 


A exposição, que já passou por São Paulo, Fortaleza, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Curitiba, respectivamente, reúne mais de 50 obras, selecionadas por importância histórica, com uma linguagem moderna e contemporânea e técnicas diversas, tais como pinturas, esculturas, litografia e barkpaintings (pinturas em entrecasca de eucalipto).  

Compõem o acervo obras de arte da Coo-eeArtGallery, a galeria mais antiga e respeitada em arte aborígene da Oceania. Peças de coleções privadas e instituições governamentais também atravessaram o oceano exclusivamente para esta exposição. Os trabalhos artísticos representam um período de 45 anos, desde o despertar da comercialização da arte aborígene contemporânea na década de 1970 até o presente.  

O Tempo dos Sonhos

Os artistas aborígenes pintam os seus sonhos (mas não a ideia Junguiana de sonhar e sua associação com o inconsciente). Para eles, pintarem o seu “sonhar” (Dreaming, em inglês) implica em recontar histórias que são atemporais a fim de mantê-las vivas e repassá-las a futuras gerações. Não se trata de algo religioso, mas ligado à própria sobrevivência. Essas pinturas contêm informações vitais, como, por exemplo, onde encontrar “água viva” permanente. Manter o “Sonhar” vivo é a motivação fundamental para a prática da arte dos artistas indígenas da Austrália.   

A arte aborígene da Austrália


“No Brasil, costuma-se pensar de forma equivocada em artefatos indígenas. Com isso, pode causar surpresa ao público brasileiro descobrir que a produção artística dos aborígenes da Austrália vem sendo cada vez mais valorizada e reconhecida como arte e com status de arte contemporânea”, revela Ilana Goldstein, antropóloga da Unicamp, doutora e especialista em Arte Aborígene da Austrália na América Latina e consultora do projeto. 

A arte Aborígene da Austrália movimenta cerca de 200 milhões de dólares por ano naquele país-continente. Estima-se que hoje mais de 7 mil artistas indígenas vivam de sua prática artística. “Nós, brasileiros, tivemos, até hoje, poucas oportunidades de conhecer todo esse universo da arte aborígene da Austrália, o que pode, inclusive, levar-nos a refletir sobre os povos indígenas de nosso país. O Brasil e a Austrália possuem muitas coisas em comum. Contribuir para aproximá-los e convidar ao diálogo é um dos objetivos dessa exposição”, justifica o curador Clay D´Paula.  

Com esta exposição, os curadores buscam proporcionar ao povo brasileiro a oportunidade de refletir sobre os povos indígenas da Austrália e do Brasil e sobre o impacto da colonização sobre eles. “Reconhecer o potencial artístico dos nossos ameríndios pode ser uma forma de reconciliação com o passado, trazendo uma nova perspectiva”, aponta o curador brasileiro. O projeto também traz uma reflexão sobre a filosofia indígena, que consiste no conhecimento mítico aplicado à arte contemporânea. 

Barkpaintings

Os visitantes vão apreciar as barkpaintings, pintura sobre entrecasca de eucalipto, típica do norte tropical da Austrália, região conhecida como Arnhem Land (A Terra de Arnhem). Essa é uma das formas de expressão artística mais antigas do mundo, com mais de 40 mil anos. Inicialmente, as barkpaintings tinham uma pobreza estética muito grande porque não foram criadas para durar, mas sim para cerimônias ou decoração. Hoje, elas trazem uma execução primorosa, sendo consideradas arte, não artefato, e estão em museus renomados, além de integrarem coleções particulares. 

Artistas participantes 

A mostra reúne os artistas aborígenes de maior projeção internacional, com uma paleta refinada e luminosa, como a do celebrado artista Rover Thomas (1926-1998), com suas paisagens de cor ocre que mudaram, com sua visão, a percepção paisagística australiana. Suas pinturas podem ser apreciadas da mesma forma que as criadas pelos impressionistas no século 19, mas sem horizontes.  

A estética desenvolvida pelos artistas lembra o minimalismo e o expressionismo. No entanto, as obras criadas por eles trazem uma linguagem visual única e de verdades eternas – lembrando que os artistas indígenas da Austrália, na sua grande maioria, não tiveram contato algum com a arte europeia. “A arte não é uma invenção dos europeus. Toda cultura tem a sua própria e singular forma de expressão: seja na música, na dança ou na pintura. Não existe diferença entre uma obra de arte criada no deserto e na cidade. Elas devem ser apreciadas e reconhecidas da mesma forma. Esta exposição vem descortinar tais pré-conceitos, reconhecendo as obras criadas pelos artistas indígenas de todo o mundo. A arte aborígene, por exemplo, não é uma cópia, nem uma réplica. Mas uma linguagem visual inovadora e revolucionária e que desafia os padrões pré-estabelecidos da arte”, afirma o curador Clay D'Paula. 

A grande estrela da exposição é Emily KameKngwarray (1910-1996). Mulher, negra, ela começou a pintar aos 79 anos de idade e é considerada pela crítica uma das maiores pintoras expressionistas do século 20. Foi comparada à Pollock e Monet, entre outros expoentes que figuram nos livros da história da arte. Emily estará representada na mostra com duas obras. Uma delas é a pintura Sem título, 1992. Emily tornou-se a artista mais querida da Austrália. Representou o país na Bienal de Veneza e em vários outros eventos de arte internacional. É importante ressaltar que Emily nunca teve acesso à arte ocidental, logo, enquadrar a sua pintura dentro de um movimento artístico europeu pode ser um equívoco. Ela que, sem falar uma palavra em inglês, já expôs lado a lado com Picasso, Kandinsky e Mondrian entre outros másters internacionais da arte. “Ou eles que expuseram com ela”, complementa Clay D´Paula. 

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