terça-feira, 1 de dezembro de 2015

NÃO VIAJO PORQUE SOU RICO. VIAJO POR QUE É O MEU TRABALHO ! Jeff Severino



Já perdi diversos trabalhos porque muita gente acredita que eu não preciso, pois vivo viajando e acham que eu sou um bom vivant, um milionário. Ledo engano! Antes fosse! Mal sabem ou se interessam saber que é apenas o meu trabalho. É evidente que vivo de férias pois quem trabalha naquilo que gosta vive de férias. Costumam dizer também que eu tenho muita sorte. Respondo com o bordão popular: "Quanto mais trabalho, mais sorte tenho"

Chegam também a dizer: “Nossa, como você viaja tanto, deve ser rico”! Já nem sei quantas vezes ouvi isso. Respondo que não e, que na verdade viajo de férias uma vez por ano, férias de no máximo 10 dias para alguma estação de esqui, minha paixão, em família. De resto, é estar sempre a bordo, chegando muitas vezes em casa, trocando de mala e tomando outro voo, encarando horas em salas  de embarque, conexões absurdas e mesmo em salas vips, que não é nenhum privilégio, mas uma conquista, pelo acúmulo de milhas, é um trabalho cansativo. Experimente encarar 18 horas, 23 horas, 32 horas entre voos e conexões de um um destino para outro. Isso tudo carregando malas, equipamentos fotográficos, computador, ... 

Trabalho como qualquer outra pessoa, só que em qualquer lugar onde haja conexão com a WEB. Dentro do avião, o tempo todo redigindo textos, trabalhando e editando as fotos, respondendo e-mails... coloco o fone de ouvido e entro no meu mundo e, quando consigo sinal na próxima conexão, disparo tudo.

Quando chego no próximo destino já tenho tudo organizado por gente competente. São inúmeros fanpress, fantrips, onde raramente tenho tempo de desfrutar dos magníficos resorts que estou. É deitar tarde e acordar de madrugada. Até mesmo ali em Gramado-RS, tão pertinho de Florianópolis. Levo 40 minutos para chegar em POA e duas horas para chegar em Gramado. Para sair de Gramado, no primeiro voo da manhã, tenho que levantar às duas da madrugada. Isto é, não durmo. Para sair de Búzios/Cabo Frio, é a mesma coisa. A maioria, ou quase todos os voos do nordeste para o sul do Brasil são de madrugada e, as companhias aéreas, ao invés de nos servirem logo o café ou lanche após a decolagem, deixam para fazê-lo bem depois que todos pegamos no sono. Um inferno, uma desgraça. Adoram nos torturar. Não sei quem é o pai desta maldita ideia. 

Geralmente almoço e janto nos aeroportos. Já viram o preço abusivo dos lanches? A qualidade da comida? Tudo igual, mesma coisa, mesmo gosto. Quando posso, levo de casa. É mais garantido. Quando saio cedinho de Floripa, com voo levando o dia todo e de GOL/TAM, não tenho a menor dúvida. Passo no Joca (caminho do aeroporto), conhecido de muita gente, tomo um café da manhã reforçado e compro uns três kibes. Os melhores da cidade e os desfruto a bordo ou em qualquer outro aeroporto. Vale a pena. Nada se compara a alguns gostos e manias que adquirimos de tanto viajar.  

Estão achando que eu estou reclamando? Claro que não! Adoro essa correria. Adoro rever os amigos. Adoro os "dead lines" das redações. Tenho paixão pelo clics/disparos da minha câmara fotográfica. 

Levando antes do nascer do sol só para fotografá-lo e já corri atrás por do sol e até da aurora boreal. Estive em lugares espetaculares e em outros que só vale a pena ir uma vez para saber como é e nunca mais voltar. Em outros volto quantas vezes forem necessárias. Já caí em verdadeiras roubadas. Fui picado por tudo quanto é bicho. Já encarei diversas arremetidas de aeronaves e fui parar em outro destino por simplesmente o avião  não pousar, principalmente aqui em Florianópolis. Já pensaram o que é estar "em cima de casa" e não poder pousar, tendo que ir até Curitiba e voltar de ônibus por conta do mal tempo? 

Já andei em lombo de burro e até de búfalo na Ilha de Marajó. Já naveguei de canoa pelos Igarapés da Amazônia, descortinei o Pará, circulei a pé por Fernando de Noronha. Circulei à Ilha do Algodoal de carroça. Custava R$ 10,00 a volta a Ilha da qual não queria voltar mais. Já andei de trenó puxado por Huskyes siberianos e Malamutes do Alaska. Já andei no Trem do Fim do Mundo. Já conheci e fotografei muita gente importante, mas conheci muita gente simples que valeram muito mais a pena. Me ensinaram muito. Se tornaram inesquecíveis. 

É bom você retornar a um destino ou local, ser bem recebido, ir direto para a cozinha, abraçar o chef, conhecer o mensageiro, os atendentes e acima de tudo, ser chamado pelo seu próprio nome e, ao chegar no quarto ver a satisfação que lhe é dada por ter retornado. Essas são as minhas vantagens que não abro mão. É bom ser esperado e é fundamental ser bem recebido.

Viajo porque é o meu trabalho, Graças a Deus. Não sei e nem saberia fazer outra coisa. É por conta disso que ganho meu justo dinheiro, pago minhas contas, me sustento. Ofereço lazer cinco estrelas para a família. Frequento bons, os melhores restaurantes porque sou convidado ou porque são meus grandes amigos ou para conhecer, fotografar e comentar sobre aquilo que vi e degustei. Faz parte de quem trabalha com turismo, hotelaria, gastronomia, e destinos turísticos e, quando posto na rede, é porque também faz parte do meu trabalho. Ganho pra isso. 

Viajar não significa luxo. Não me interessa tirar fotos embaixo da Torre Eiffel, (nada contra, muito pelo contrário) a não ser que esteja ganhando pra isso. Não preciso dizer que me hospedei no Ritz, a não ser que seja, de novo, pago pra isso. Tão pouco no Burj Al Arab Hotel em Dubai. Já viajei de primeira classe, Pela TAM e pela Aerolineas Argentinas. Questão de trabalho e parceria na ocasião. Isso não tem importância. O importante é ir, vivenciar, contar boas histórias, conhecer gente especial e voltar pra casa.

Como é bom voltar pra cama da gente. Por melhor que seja o hotel, o lugar, nada melhor do que voltar pra casa. As pessoas tem uma concepção um pouco errada de viagens ou do meu trabalho. É preciso estudar, é preciso ter o conhecimento, é preciso conhecer o trade, o destino. É preciso ter o equipamento certo, que não é barato. É preciso investimento constante. 

Não precisa-se ficar no melhor hotel. Basta ter uma ótima cama, ter um bom black out (para o quarto ficar bem escuro), um bom chuveiro e ser bem, mas bem limpinho. Ahhh, e tem que ter conexão com a WEB. Sem isso não posso trabalhar. Adoro trabalhar na madrugada e não divido quarto com ninguém. Minha primeira exigência. 

Todas as minhas viagens são planejadas e já recebi a minha planilha do ano que vem. As minhas férias de agosto, eu as compro em fevereiro. Para as férias tudo tem que ser bem planejado para quem não tem grana sobrando. Pesquisando lugares, acompanhando o preço das passagens e hotéis. Monto um orçamento base para saber quanto eu vou precisar para a tal viagem. Divido esse valor pelos meses até data da viagem e assim eu sei de quanto dinheiro vou precisar economizar todos os meses para poder viajar.

Levanto voo sem dívida alguma, podendo gastar dentro do limite estipulado por meu bolso. Simples assim. Não é questão de ser rico, mas sim organizado, coisa de taurino que não espera nunca e nem tanto. 

Claro que eu economizo, deixo de comprar muita coisa. Penso sempre no custo x benefício. Se realmente precisar eu compro, caso contrário vai para o bolso da economia para as próximas férias. Não falo de abrir mão das coisas boas da vida e “deixar de viver” para juntar dinheiro. É simplesmente definir prioridades.

Há muito tempo aprendi que não levarei deste plano, nenhuma roupa de marca, nenhum carro zero km, enfim nenhum bem material. Levarei unicamente aquilo que vivenciei, conheci, descobri, amei, desfrutei e, isso, ninguém tira da gente.

Portanto não sou rico mas, se você quer ganhar dinheiro, então me chame, meu trabalho é justamente este, divulgar todas as potencialidades de um destino, a gastronomia de um lugar, os sabores, gostos, aromas, tons, modo de vida, ... Luxo mesmo, pra mim, é viver e fazer o meu trabalho da melhor maneira possível. Aquilo que é bom eu falo e recomendo. Aquilo que é ruim eu simplesmente não falo. Não gosto e não tenho o hábito de falar de ninguém e, mesmo por conta de não ser bem recebido/hospedado, falo do destino, que não tem nada a ver com o receptivo/hotel/gastronomia. 

Estou as ordens sempre. 



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