sábado, 13 de agosto de 2016

O MAIOR HOTEL DO MUNDO SERÁ ABERTO EM 2017 EM MECA: 10.000 QUARTOS E 70 RESTAURANTES

O MAIOR HOTEL DO MUNDO SERÁ ABERTO EM 2017 EM MECA: 10.000 QUARTOS E 70 RESTAURANTES

Uma imagem do que será o maior hotel do mundo - (Foto: Dar al-Handash)

O maior hotel do mundo está programado para abrir em Meca no ano que vem. O prédio, chamado Abraj Kudia, terá 10.000 quartos e ocupará uma área de 1,4 milhão de m². Assim como quartos de hotel, ele terá 70 restaurantes, um grande shopping e um suntuoso salão de baile.

A construção do hotel está prevista para custar cerca de £ 2,7 bilhões [pouco mais de R$ 11 bilhões], bancados pelo Ministério das Finanças saudita. É um projeto do grupo Dar al-Handash, uma empresa internacional de design e projetos.

Será aberto ao público, mas terá cinco andares reservados para a família real saudita para uso em férias e feriados. 

A extravagância em construções em Meca no ano passado levou o diretor da Fundação de pesquisa da Herança Islâmica (sediada no Reino Unido) a chamar a cidade de "Meca-hattan". 

[Arábia Saudita, um país muito estranho

A Arábia Saudita é, territorialmente, o maior país árabe na Ásia e na Península Arábica. O Reino da Arábia Saudita foi fundado em 1932. O país tem a segunda maior reserva de petróleo e a sexta maior reserva de gás natural do mundo, e é o 19° maior PIB do planeta.

Os dois mais importantes centros religiosos do islamismo são sauditas: as cidades de Meca (onde está a Caaba, o lugar mais sagrado do mundo para os devotos do Islã) e Medina. Opulento, com fama de perdulário e um claro projeto de poder na região, o país tem entre 85% e 90% de sua população formados por sunitas e o restante de xiitas, o que o torna estratégico e de extrema importância e poder na sangrenta rivalidade entre essas duas etnias no Oriente Médio.  

Severa cumpridora da sharia, a rígida lei islâmica, a Arábia Saudita se destaca também por atitudes absolutamente bizarras, anacrônicas e absurdas com relação a seus cidadãos e àqueles que a visitam. Estabeleceu recentemente a pena de morte para quem entrar com a Bíblia em seu território. As mulheres sauditas não podem: 

1) Buscar justiça (de verdade) contra agressões --  A Arábia Saudita aprovou apenas em 2013 a criação de leis contra a violência doméstica e o abuso sexual, mas a punição dada é geralmente uma multa em dinheiro. O agravante é o fato de a tradição determinar que os problemas familiares sejam resolvidos no próprio meio familiar.

2) Viajar sem um guardião -- As mulheres só podem viajar com a companhia ou autorização de um guardião (um mahram), um homem da família como o pai, marido ou irmão. Já em território saudita elas circulam sem guardiões, até mesmo nas áreas mais tradicionais.

3) Dirigir -- As mulheres são impedidas de dirigir há décadas. Segundo clérigos, mulheres motoristas minam os valores sociais e até prejudicam seus ovários, colocando suas futuras gestações em risco. Em setembro de 2007, um grupo de mulheres intelectuais sauditas criou a primeira associação no reino para reivindicar o direito a dirigir. O habitual é que as autoridades detenham as motoristas e apreendam o veículo, até que um tutor --um homem da família-- se apresente na delegacia e assine um documento no qual garanta que a infração não vai se repetir.

4) Vestir a roupa que quiserem -- A vestimenta exigida para as mulheres segue a interpretação da sharia. Elas devem usar a abaya, um longo vestido preto de manga longa que cobre totalmente o corpo. Elas também devem cobrir os cabelos com um véu, mas não necessariamente o rosto todo. A liberdade de vestimenta pode ser maior (ou não) dependendo do quanto a família é conservadora.

Em certas cidades, como em Buraidah (localizada na região mais religiosa, conservadora e rica do país) é obrigatório cobrir o rosto. Em cidades grandes como Riad, Jidda e Dammam, nenhuma mulher é obrigada a usar o niqab para cobrir o rosto; mesmo assim a grande maioria usa.

O mesmo vale para a maquiagem. Mas, segundo Débora Garcia (brasileira residente e professora de inglês em Buraidah), a grande maioria das mulheres usa (e abusa) da maquiagem. "Elas vão super maquiadas para a faculdade e para o trabalho. O que não pode é fazer a sobrancelha --tirar os pelos não pode, mas fazer o desenho com descolorante é permitido".

5) Interagir com homens -- A mulher não deve falar com homens que não são de sua família. "Um homem e uma mulher que não sejam casados ou da mesma família não podem estar juntos em público, não podem estar sozinhos no mesmo veículo, não podem ir ao um restaurante juntos. Quando você vai a uma loja, ao banco ou restaurante, você obrigatoriamente vai ter de falar com um homem. Isso é aceitável em qualquer cidade da Arábia", relata Débora.

A maioria dos prédios possui entradas diferentes para homens e mulheres, e parques e até o transporte público têm áreas segregadas para mulheres.

6) Entrar em cemitérios -- Uma mulher será enterrada em um cemitério, mas não poderá participar do funeral de seus parentes, já que elas são proibidas de entrar no local. Mas não se engane: os sauditas não dão muita atenção a funerais; até o sepultamento do rei foi simples. "Eles acreditam que os mortos podem nos ouvir. Então as mulheres não devem ir aos enterros porque, emotivas por natureza, iriam chorar muito e incomodar os mortos", explica Débora. Outro motivo é o fato de que não se deve rezar ou fazer súplicas para os mortos, e supostamente as mulheres poderiam fazer isso.

7) Disputar competições esportivas em seu território -- A participação de mulheres nos esportes tem grande oposição dos religiosos. Até o ensino de Educação Física é proibido nas escolas para elas. Neste ano, a Arábia Saudita se propôs a sediar os Jogos Olímpicos sem competições femininas -- elas seriam disputadas no Bahrein, que participaria da candidatura conjunta. A ideia foi vetada pelo Comitê Olímpico, que classificou a proposta como discriminatória. Mas, em 2012, as mulheres sauditas puderam pela primeira vez disputar uma Olimpíada -- ainda que tenham sido chamadas de prostitutas pelos clérigos radicais do país. 

Aos 16 anos, a judoca Wodjan Ali Seraj Abdulrahim Shahrkhani foi uma das duas primeiras mulheres a disputar uma Olimpíada, em Londres. Ela disputou as provas com um véu depois de uma discussão com o comitê, que chegou a um acordo sobre um modelo que cobriria os cabelos dela. A outra é a atleta Sarah Attar, que também correu de véu e calças.

8) Usar academias e piscinas sem restrições -- Se você vive em uma cidade grande, há opções de academias femininas semelhantes às brasileiras. Mas, nas áreas menores e mais tradicionais do país, malhar é algo quase impossível. "Academias existem só dentro de clínicas ou salões de beleza ou estética e, mesmo assim, com várias restrições", relata Débora. "São poucos aparelhos e horários bem reduzidos".

Uma repórter da agência de notícias Reuters contou recentemente que, apesar de estar hospedada em um hotel de luxo em Riad com uma excelente academia e uma grande piscina, foi impedida até mesmo de conhecer os lugares. "Há homens em trajes de banho lá" disse o funcionário do hotel em choque com o pedido de Arlene Getz. O que foi disponibilizado para ela se exercitar foi uma pequena sala com uma esteira e uma bicicleta ergométrica.

9) Se consultar com um médico sem a presença de seu guardião -- Segundo a ONG Human Rights Watch, foi aprovada recentemente uma fatwa (decreto religioso) determinando que mulheres não sejam examinadas por médicos sem a presença de seus guardiões. Elas só podem expor partes do corpo para homens em casos de emergência médica. Mas Débora afirma que tanto ela como as outras mulheres do país conseguem atendimento sozinhas com médicas mulheres sem dificuldades.

10) Comprar uma Barbie - A famosa boneca americana foi banida da Arábia Saudita em 2003, já que seria uma ameaça para a moralidade. As meninas do país têm a Fulla, criada na Síria e que no mesmo ano ganhou os mercados sauditas. Ela também vem em uma caixa rosa e tem uma coleção de véus que podem ser trocados. Ela não tem namorado (como o Ken) e, além de cozinhar, cantar e rezar (em vez de ter uma vida típica americana, como a Barbie), atendeu a um mercado consumidor que demandava uma boneca que representasse as tradições islâmicas. Além disso, a Fulla custa a metade do preço da Barbie.


Reportagem de May Bulman, publicada no jornal inglês The Independent

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