O JORNALISMO DE TURISMO
por Paulo Queiroga
Tratar da própria profissão de quem está escrevendo um editorial. Embora não esteja previsto em nenhum manual de redação, e muito menos utilizando o tratamento da primeira pessoa, considero oportuno abordar o tema para falar da atividade do jornalista de turismo.
O charme, o fascínio com as viagens e o apelo aos sentidos que o turismo evoca, cria o senso comum de que a vida profissional de quem pesquisa, analisa, descreve e publica matérias sobre destinos turísticos é um eterno turismo. E essa sedução acaba por atrair maus profissionais, quando não, falsos profissionais.
Não se pode negar que viajar, mesmo a trabalho, existe, de fato, a perspectiva de conhecer novas culturas, hábitos diferentes, boa gastronomia e lugares que encantam os olhos e a alma.
Evidentemente, trabalhar com jornalismo de turismo é menos monótono do que ser ascensorista, ou porteiro, por exemplo. Também existem menos rotinas do que a atividade de um contador, de um engenheiro ou de analista de sistemas. Todas essas particularidades desta modalidade de jornalismo são pontos positivos que alimentam o imaginário do público. Mas a realidade não é bem assim.
Legislação abriu possibilidades
No ano passado, o Supremo tribunal Federal – STF derrubou o decreto-lei publicado em 1969, que impunha a exigência de diplomação específica de jornalista para o exercício da profissão. Este decreto nascido no período em que o país vivia em pleno regime militar tinha o propósito, entre outros, de controlar a atividade do jornalismo pelos órgãos de repressão, além de atender à demanda de alguns setores da própria imprensa, que, com o discurso de defesa de conteúdo, valores etc, defendiam uma reserva de mercado da profissão.
Atividade legitimada pela competência
Com a derrubada da obrigatoriedade do diploma, saiu da clandestinidade a prática de escrever em veículos de comunicação e receber por isso. O jornalismo tornou-se atividade legítima para profissionais de outras áreas, que, a par do conhecimento específico de sua formação, possuam também técnica e talento para transmitir idéias, fatos, versões e, especialmente, lidar com a língua – esta ferramenta que é um dos mais antigos direitos e recursos de interação entre indivíduos e grupos.
O crivo é o mercado
A decisão do STF abriu, inicialmente, oportunidades em diversas áreas para todo tipo de pretensos jornalistas. Mas o próprio mercado foi se incumbindo de filtrar os bons e maus Profissionais. Com esse crivo do mercado, para ser hoje um jornalista de profissão reconhecido em seu meio e na comunidade onde ele se insere, não basta recorrer ao artigo o art. 5º, inciso XIII da Constituição Federal de 1988, que dispõe: - “é livre o exercício de trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer.” E aqui retorno ao tema jornalismo de turismo. Para se tornar efetivamente um jornalista de turismo, não basta a legalidade.
Mais do que jornalista
O profissional precisa reunir como conhecimento o domínio da língua, as técnicas de redação, acuidade, senso crítico e, principalmente, estilo. O jornalista de turismo é aquele profissional que, por meio da linguagem leva o leitor, ouvinte ou expectador a sonhar com o destino turístico que ele descreve e servir de elo entre o desejo e a realização do sonho. Em alguns aspectos, sob a ótica das técnicas de linguagem, ele é mais do que um jornalista. Por trabalhar com o universo simbólico de seu público, o jornalista de turismo precisa ser também um escritor. E para que sua atividade atinja a eficácia esperada, ele não pode abrir mão dos princípios de integridade, isenção, objetividade da notícia, respeito às fontes e personagens e outros atributos éticos e profissionais que estão muito além do conteúdo de uma grade curricular com pouco mais de três mil horas de duração, dos cursos de formação profissional, aos quais, com algumas exceções, dedico todo o respeito.
Bons e maus profissionais.
Mas, como em qualquer profissão, há também no jornalismo de turismo aqueles que honram e os que desonram a própria atividade. Há também os que se aproveitam em vantagens para si, das facilidades e generosidade próprias do setor. Pior mesmo são os que utilizam ficticiamente um título de jornalista de turismo, sem sequer possuir espaço em veículo de comunicação, quando não é mais grave - sem mesmo saber escrever com um mínimo de rigor técnico. A esses, a nossa mais aguda repreensão, não de caráter legal, mas de natureza moral.
Paulo Queiroga é Presidente da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo - ABRAJET MG.
Fonte: Diário do Turismo
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