HOTEL X AIRBNB: O RELATÓRIO DA STR 2017 FOI PUBLICADO
por Fernanda Amaral
Foi divulgado em janeiro o relatório da STR, que neste ano focou no aumento da procura pela Airbnb, empresa que está presente em 190 países, 34 mil cidades, e soma mais de três milhões de acomodações – quase o triplo da Marriott, que possui 1,1 milhão de apartamentos. O estudo analisou de forma comparativa esse aumento da procura pela Airbnb em detrimento de acomodações tradicionais como hotéis, pousadas, hostels e lodges.
Airbnb e hotéis: o relatório da STR mostra o mercado de 13 cidades do mundo. Foto: Pixabay
A STR é um grupo de empresas formado em 2008 e é a maior autoridade no que diz respeito a banco de dados, pesquisa, benchmarking, serviços de consultoria e notícias sobre o ramo hoteleiro do mundo. Fazendo análises comparativas e detalhadas, mostrando tendências e visões do mercado.
O relatório, intitulado “Airbnb & Hotel Performance – An analysis of proprietary data in 13 global markets” (Performance da Airbnb & Hotéis – Uma análise dos dados proprietários de 13 mercados do mundo), detalha em 35 páginas o que o hoteleiro precisa saber para manter-se atualizado sobre o que tem ocorrido em sua área e com isso fazer algo para competir com outros estabelecimentos e serviços do ramo, em especial a Airbnb, que tomou conta do mercado em pouco tempo, e hoje é considerada a maior rede de acomodações do mundo, sem ter um único hotel. E pode vir a ser maior do que já é, pois a empresa é nova, tem bem menos acomodações a oferecer do que os hotéis, mas é a empresa que mais cresce no ramo de hospedagens.
Para a realização do relatório foram coletados dados de desempenho do mercado hoteleiro de 13 cidades diferentes: Barcelona (Espanha), Boston (EUA), Londres (Inglaterra), Los Angeles (EUA), Cidade do México (México), Miami (EUA), Nova Orleans (EUA), Paris (França), São Francisco (EUA), Seattle (EUA), Sydney (Austrália), Tóquio (Japão) e Washington, D.C. (EUA).
Os dados foram coletados de 1º de dezembro de 2013 até 31 de julho de 2016. Nos seis meses seguintes, estudados e analisados até a sua publicação em janeiro de 2017. Por solicitação da STR, a Airbnb forneceu mais de dois anos e meio de dados brutos diários para ser comparados com os dados dos hotéis e outros tipos de acomodações. A STR nega ter recebido qualquer tipo de remuneração para a realização do trabalho, mantendo a imparcialidade no estudo. Outro ponto considerado também foi: como é difícil comparar diferentes tipos de alojamento com diferentes tipos de modelos operacionais, estes foram excluídos, e foram considerados apenas casas/apartamentos não compartilhados ou privados.
As principais conclusões da pesquisa foram:
A ocupação do hotel foi significativamente maior do que a ocupação Airbnb;
Embora a participação da Airbnb na oferta total de alojamentos (isto é, o número de quartos) estava crescendo, sua participação na demanda do mercado é geralmente abaixo de 4% e 3%, respectivamente;
Os hóspedes da Airbnb, em geral, ficam mais tempo do que a média dos hóspedes da Airbnb que costumam ter viagens que duram sete dias ou mais;
A participação da Airbnb nas viagens de negócios foi consideravelmente menor do que nas viagens de lazer;
Por suas diárias, os hotéis cobram em média US$16 a mais que na Airbnb nos sete mercados localizados nos EUA;
Os hotéis têm mais hóspedes de segunda à sexta-feira (negócios) enquanto que a Airbnb têm mais hóspedes nos finais de semana e feriados (lazer) – com exceção da cidade de São Francisco (EUA) onde a Airbnb tinha mais hóspedes às quartas e quintas-feiras;
O evento que mais traz hóspedes à São Francisco (EUA) anualmente é o campeonato Super Bowl. E a diária média (ADR) aumenta a cada ano nesse período, sempre ocorrido no primeiro domingo de fevereiro. Em 2015, tanto hotéis como a Airbnb cobravam o mesmo, US$190. No entanto, em 2016, a estratégia de precificação dos hotéis e da Airbnb mudaram drasticamente: nos hotéis aumentaram o preço da diária em 138%, passando para US$452, enquanto que na Airbnb aumentou “apenas” 43%, cobrando então US$272;
Enquanto a Airbnb vem ano a ano crescendo a sua demanda nos dias de semana, e hotéis continuam vendo esse crescimento também, nas cidades americanas de Boston e Nova Orleans foi o contrário: foram os únicos mercados que viram um ligeiro declínio na demanda de dias úteis do hotel ano a ano;
Com o fim da recessão americana, a procura por imóveis aumentou consideravelmente no país, tornando qualquer impacto negativo direto pela Airbnb difícil de verificar;
Alguns hoteleiros suspeitam que o impacto da Airbnb é mais evidente em períodos de maior demanda, quando eventos importantes (feiras, congressos, shows etc) ou certas dinâmicas de mercado elevam os níveis de ocupação absolutos em até 95%. Essas “noites de compressão” geram ADRs de hotéis mais altos, aumentando a receita;
A Diária Média (ADR) da semana nos hotéis aumentou em todos os mercados, especialmente em Barcelona, Tóquio, Los Angeles e São Francisco, que tiveram um crescimento de 5 a 10%, exceto em Miami. Em Paris e Nova Orleans, no ano que terminou em julho de 2016, teve um declínio na demanda de hotéis, diferente dos demais mercados;
As taxas de crescimento da Airbnb de Tóquio (Japão) foram as maiores entre os mercados examinados, mas o número de hotéis da cidade não tiveram crescimento. Miami relatou a maior oferta de hotéis (4,1%), e a Cidade do México registrou o maior aumento da demanda hoteleira (5,5%);
Demografia: de acordo com a Airbnb, a média de idade dos hóspedes da Airbnb era de 35 anos, do sexo masculino. 53% dos convidados eram pessoas do sexo feminino. E segundo o relatório “Lodging Industry Trends 2015″, feito pela AH&LA (American Hotel & Lodging Association), 50% de todos os hóspedes de hotel tinham de 35 a 54 anos, e pessoas do sexo masculino compunham 63%;
As taxas da Airbnb diminuíram em oito mercados e aumentaram em cinco.
Uma vez que a maioria dos mercados estudados neste relatório haviam mais de 40% das unidades Airbnb à disposição, – e em algumas localidades chegava a 100% – ao analisar o crescimento é importante reconhecer a linha de base. A Airbnb é uma empresa nova, chegou ao Brasil em 2012, está presente em muitos mercados, e as taxas de crescimento muitas vezes possui um potencial inexplorado. Em outras palavras, a Airbnb ainda tem mais espaço para crescer, e os hoteleiros necessitam ter isso em mente para conseguir reavaliar o seu negócio e competir com esse novo tipo de serviço.
Figura 3 do Relatório da STR: lista das maiores redes de acomodações do mundo.
AIRBNB, APPS E SITES: TRANSFORMAÇÃO DO MERCADO HOTELEIRO NA ERA DA INFORMAÇÃO
O mercado hoteleiro está em transformação, estamos na era da informação, a tecnologia permeia tudo. Não tem volta. O cliente não procura mais um quarto de hotel no local que quer ficar apenas através de guias turísticos e imobiliárias. Ele consulta aplicativos e sites na internet. Quer conhecimento, lê avaliações de outras pessoas, compara imagens mostrando detalhes do local que está oferecendo estadia. Se o cliente não gostar do que viu, ou faltar muitos dados, pode acabar procurando o hotel concorrente ou mesmo a Airbnb.
O hoteleiro precisa ter consciência que necessita investir mais no seu canal de vendas, que é o site do hotel. Muitos sites possuem tecnologia antiga, não possuem motor de reservas ou possuem um motor confuso, ignoram que diferentes motores possuem diferentes taxas de aproveitamento, não disponibilizam as informações básicas que qualquer hóspede gostaria de saber (ou estão desatualizadas), são visualmente feios, sem conteúdo, sem fotos das acomodações e da estrutura em geral… por que alguém iria se interessar por um hotel assim?
E pior, praticam tarifas mais caras em seus próprios sites. Quem em sã consciência vai pagar mais caro por algo que encontra mais barato nas OTAs (sigla em inglês para “Agências de Viagem Online”)? As pessoas procuram novidade, com qualidade aliada ao menor preço.
Fernanda Amaral
Jornalista. Redatora de portais e blogs, revisora textual e normativa.
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